Uma brasileira nos EUA, por Giovana Ghirardelli

21 janeiro 2015

Tinha acabado de completar quinze anos de idade e não tinha nenhum plano de morar fora do país. Quando de repente a vida deu uma volta inesperada. Minha mãe casou-se com um homem que morava nos Estados Unidos, mas era de Sorocaba, nossa terra natal. O casamento deles nos trouxe (eu, minha irmã e minha mãe) para este país maravilhoso, de oportunidades. 
Quando cheguei, supostamente eu estava no High School, equivalente ao colegial do Brasil. Porém, a escola decidiu que eu e minha irmã seríamos colocadas um ano abaixo do que estaríamos se fosse no Brasil, pois não falávamos nada de inglês. 
No começo foi difícil, pois nós tínhamos uma grande dificuldade em fazer amizades. Na escola havia muitos brasileiros, o que dificultava o aprendizado da minha nova língua, pois passava o tempo todo falando em português com eles. 
Alguns anos depois, me mudei com meu ex-namorado para Jacksonville, uma cidade localizada no norte da Flórida, que faz divisa com o estado da Georgia. Quando nos mudamos para lá, eu me sentia muito sozinha, pois não havia muitos brasileiros ou latinos em geral, apenas americanos. O lado bom dessa solidão foi que, graças a essa cidade, aprendi a falar inglês. Consegui um emprego numa pizzaria no bairro em que morávamos e lá aprendi não somente sobre a língua deles, mas também as gírias e os costumes americanos. 
Meu trabalho não era o mais fácil do mundo (pelo menos pra mim). Eu pegava os pedidos dos clientes pelo telefone; isso incluía os endereços também. Um super sufoco! Havia dias que eu ficava tão frustrada por não entender o que os clientes falavam que eu corria para banheiro dar uma choradinha, contar ate dez e voltar como se nada tivesse acontecido. Uma vez, imprimi o mapa das áreas de entrega da pizzaria e tentei decorar o nome das ruas. A ideia não funcionou e meu antigo patrão um dia me chamou pra uma conversa séria: queria que eu trabalhasse na cozinha da pizzaria. Pelo menos na cozinha, não teria que interagir com os clientes e, portanto, não existiriam gafes. 
Foi naquela pizzaria, com aqueles companheiros de trabalho, que aprendi desde como falar nome de ingredientes de pizza até atender um telefone, falando uma segunda língua que antes eu não compreendia muito bem. Anos depois, já de volta no sul da Flórida, onde moro até hoje, me sinto grata pela oportunidade de estar aqui. A vida é corrida: para os americanos, tempo e dinheiro. Quando nos mudamos para cá, sem querer passamos a copiar o modo de viver deles. Os dias passam muito rápido e as leis funcionam rigorosamente, o que mantém a ordem do país. 
O que me chamou muito a atenção no começo foi a maneira como americanos respeitam o espaço do outro. Não tem essa coisa tão afetiva de tocar nas pessoas; não se vai à casa de ninguém (nem de parentes) sem ligar antes perguntando se é possível fazer a visita. O que me encanta é a organização no trânsito, o respeito pelos pedestres e como as ruas são limpas. Onde quer que você vá, sempre terão várias latas de lixo, separando recicláveis de não-recicláveis. Algo que sempre gostei muito aqui são as livrarias: enormes (algumas com dois andares ou mais) e abertas ao público todos os dias. As pessoas podem passar o dia inteiro lendo e não comprar absolutamente nada. E não haverá problema algum. Para completar, ainda é possível tomar um café gelado no Starbucks para refrescar. 
Outra grande vantagem de morar onde moro, é que estou a quarenta minutos de Miami, ou seja, quarenta pequenos minutos do paraíso! Miami Beach é realmente linda, como mostram nos filmes e na TV. Existem pessoas de todo lugar do mundo por lá. Em Miami Beach você encontra as baladas mais tops, como a Liv, que recebe famosos como o cantor Drake e os jogadores do Miami Heat regularmente. Também em Miami Beach, encontram-se restaurantes como o seasonal Joe’s Stone Crab and Segafredo, que oferece mojitos deliciosos. 
Hoje tenho vinte e quatro anos e sou estudante. Estou atualmente cursando meu último semestre em Associates Degree, no Broward Community College. Para quem nao sabe, os "community colleges" são uma espécie de cursinho que alunos cursam por um curto período de tempo (geralmente dois anos) para, em seguida (ou não), transferir para alguma universidade. Alguns alunos cursam somente até o college, porém eles não oferecem cursos como Direito, Educação ou Medicina. Colleges como o Broward oferecem uma variedade de aulas que ajudam o aluno a aumentar o GPA para poder ser aceito em uma universidade. 
Aqui, nós precisamos de um número chamado "Grade Point Average", o GPA. É o sistema de notas que determina o nível de conhecimento do aluno através das notas que a pessoa tirou em seus semestres escolares. Para entrar na universidade é necessário um valor de GPA mínimo (cada universidade tem seu minimo para admissão).


O GPA de cada aluno sempre existe e ele começa a ser construído desde da infância. Porém, o que o aluno levará consigo pra universidade, é o GPA acumulado nos seus anos de High School. Associates Degree é basicamente um cursinho que involve matérias básicas que não necessariamente tem a ver com o curso que o aluno vai transferir na universidade. Como não temos algo equivalente a "vestibular pra entrar na faculdade", porem precisamos de um minimo gpa, estudamos o Associates degree pra termos certeza que entraremos na universidade de escolha. 
Aqui temos forte incentivo para conseguir bolsa de estudo através de esportes. Conheco alguns alunos da faculdade que são de outros países, inclusive, e que estudam de graça ou com um desconto. Esses alunos que conheço praticam, em geral, vôlei, tênis e basquete.
Durante meus dois anos de Associates Degree, eu tive aulas como Astronomia, Biologia, Apreciação de Arte, diferentes níveis de matemática e Inglês (incluindo Literatura), entre outras. Nesses dois últimos semestres, estudei aulas mais próximas com a faculdade que vou cursar. Aulas como Sociologia e Introdução para Criminal Justice. Meus planos são de transferir para a FIU (Florida International University). 
Criminal Justice não pode ser traduzido exatamente como Justiça Criminal. Alunos que cursam essa faculdade visam trabalhar no campo investigativo, policial ou como assessores jurídicos. Aqueles que decidem estender sua educação, transferem pra a faculdade de Direito a fim se tornarem advogados. Eu desejo terminar minha futura faculdade, iniciar a academia de polícia e depois de alguns anos como oficial, me tornar detetive investigativa de narcóticos. 
O governo americano oferece ajuda financeira para aqueles que não podem pagar a faculdade, também oferece bolsas de estudos aos mais capacitados. Na universidade, há também opção de bolsa de estudos e empréstimo. Para algumas pessoas, o empréstimo só começa a ser pago depois da graduação do aluno, quando o formando já possui um trabalho. Dessa forma, um valor estabelecido passa a ser descontado de seu pagamento. A educação nos Estados Unidos não é barata, mas o governo faz com que todos cidadãos tenham oportunidades iguais.



Após nove anos aqui, posso dizer que sou muito grata por morar em um lugar com temperatura agradável e que me oferece muitas oportunidades. Os Estados Unidos se tornaram o meu lar, 
mas o meu coração ainda é brasileiro.

Giovana Ghirardelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Na hora de comentar, não se esqueça de escolher o seu perfil, logo ali, embaixo do quadro branco! Quem não tiver blog ou conta no google, a melhor opção é NOME/URL. Voltem sempre! Beijos, Bru Gomes!