Minha mãe é uma pessoa engraçada.
Às vezes, quando ela usa meias, e
quase sempre ela usa meias (nos pés, obviamente), ela faz passos de balé. Não
importa se o passo está certo, nem se ela está ouvindo alguma música. Ela
aproveita que o chão de casa é liso e fica fazendo passos de balé. Sem motivos
aparentes.
Ela também não gosta de queijo.
Mas não é nenhum preconceito com ele, coitado, se a gente considerar que ela
não gosta de comer nenhum peixe que não seja branquinho e sem gosto forte, ou
também salame, presunto, maionese, sardinha, berinjela, frutos do mar,
casquinha de siri, carpaccio, etc.
Minha mãe gostava, quando eu era
um bebê, de ficar me filmando e tirando foto (a minha sorte é que na época não
existia selfie, iPhone, ou qualquer coisa que facilitasse esse gosto bacana que
ela tinha). Mesmo que eu não estivesse fazendo nada, ou apenas deitada com
aquela minha barriguinha branca de chopp (ou de leite) virada para cima, apenas
pensando em qual seria minha próxima refeição, lá estava ela, me filmando ou
tirando fotos. Por este fato, tenho um grande acervo de filmagens e fotos de quando meu cabelo era tão loiro, quase branco, que ninguém me perguntava se eu tinha luzes ou algo do tipo.
Ela gosta de comer doces. Sim.
Muitos doces. Meu pai costuma comprar chocolates para o final de semana e ela
pede para ele esconder na despensa, mesmo que o esconderijo seja tão óbvio que
ela, definitivamente, sempre saiba onde estão os chocolates. Nos restaurantes
que frequentamos aos fins de semana, ela fica brava quando queremos pedir
sobremesa e fala que só vai provar do nosso doce. Por isso, procuro sempre escolher
os com base de queijo, ou qualquer ingrediente que ela não goste. Egoísmo da
minha parte? Não. Apenas uma técnica que desenvolvi ao longo dos anos para que
eu não fique sem a minha sobremesa. Obrigada.
Você deve estar se perguntando.
Por que ela não gosta de pedir sobremesa em restaurante? Porque ela se acha
gorda. Muito embora (adoro essa palavra) ela não seja. Dona Alessandra sempre
acha que está gorda, acima do peso e que precisa emagrecer. Mas ela não
demonstra. Finge que tá tudo bem. Claro que eu e meu pai sempre sabemos.
Uma vez, brigamos por uma escova
de cabelo. O resumo da história é que eu e ela ficamos, descontroladamente,
tacando a escova, uma no quarto da outra, até a gente perceber ou se questionar: “por que mesmo a gente tava
tacando a escova?”. São momentos particulares e acontecem, mais ou menos, umas
duas vezes ao mês.
Às vezes, como nesse momento em que estou escrevendo o texto, ela
fica fazendo dancinhas ridículas só porque ela falou alguma coisa engraçada e
ficou animada por alguns minutos. Aí ela para, e começa a dançar balé. Sim.
Obrigada por isso, mãe. Você dança de maneira engraçada e a gente acha fofinho.
Outra característica que merece um parágrafo exclusivo é que ela é um pouco brava, mas eu
também sou. Então tudo bem. Acabou o parágrafo. Pulem para o próximo.
Ah... Quase me esqueci. Minha mãe
não bebe muito, mas ela gosta bastante de vinho, whisky com energético e
bebidas docinhas. De vez em quando, quando pedimos vinho e ela está com a amiga
dela de muitos anos, a Wal, elas tomam mais de uma taça (no total, duas taças. Ohhhhhh)
e ficam rindo, aparentemente sem motivo algum. Não estão bêbadas, mas ficam
dando risada e a gente nem sabe o porquê. Já desisti de tentar compreender. Hoje, aos 21, eu bebo junto e rio também, muito embora eu não saiba o motivo. Aparentemente, ele não existe.
Minha mãe gosta de ler. Lê
bastante, mas sempre um livro por vez. Ela gosta de Jane Austen, de Sophie
Kinsella, já leu todos os livros do Harry Potter e também gosta de Jorge Amado
(esses ela já leu quando era mais nova). Temos uma estante na sala e é lá que
ficam os livros lidos dela. Posso dizer que são muitos. Então, não é nenhuma novidade que eu também seja assim, mas um pouco pior.
Alessandra é a tia preferida das
crianças da família. Ela mantém a filosofia de que se a filha não é dela, ela pode mimar. Mas não se enganem com tanta doçura. Tia Ale não permite criancinhas
em cima de sua mesa de centro, devidamente organizada com revistas bonitas
sobre decoração, viagens e assuntos legais. Tia Ale também não gosta de criancinhas
brincando de bola dentro de sua sala (ou de qualquer cômodo da casa). Tia Ale
não gosta de bagunça. Segundo ela, já passou pela fase de ficar correndo atrás
de criancinhas (no caso, eu) e é por este motivo que não teve mais filhos. A
verdade é que ela traumatizou, porque pariu com 23 anos e eu não era a criança
mais quieta do mundo, se considerarmos minha aptidão para pintar as paredes com
lápis de cor, me pendurar em locais perigosos, brincar com coisas de vidro e/ou
pontudas e/ou afiadas.
Eu era uma criança maravilhosa,
como vocês podem ver, e ela apenas uma jovem (que nem formada estava), mas ia
todos os dias até Piracicaba, exatamente muitos quilômetros de distância de
Sorocaba, onde a gente mora desde sempre, para terminar seu curso de Psicologia.
Outra característica bem
particular da minha mãe, é que mesmo que ela possa acordar ao meio dia, ela
acorda às sete horas. Não me perguntem o motivo (aparentemente, não há nenhum). E aí, Alessandra
acorda meu pai, Fábio, pois fica se mexendo ou se movimentando ou fazendo algum
tipo de barulho, que, nós sabemos, sempre o acorda no final das contas.
Eu poderia ficar enumerando e
falando sobre essa espécie rara de pessoa que é a minha mãe. Mas após 21 anos
de observação e análise, tenho muitas coisas para falar. E, com certeza, vocês
tem muitas outras coisas melhores para fazer.
Por fim, gostaria de encerrar
esse texto com os meus parabéns para aquela que me pariu naturalmente, e com
muita dificuldade (eu era uma criança bem servida) e para aquela moça que teve
a brilhante ideia de colocar grades em qualquer abertura de nosso apartamento,
com a intenção de evitar qualquer tentativa de voo, por parte de sua querida
filha Bruna, no caso, eu. Obrigada, mãe,
por me ensinar a não perguntar se alguém está grávida, mesmo que a outra mulher
pareça grávida. Obrigada por me ensinar o gosto da leitura e não querer me
matar quando eu gasto dinheiro em quantidades absurdas com livros, no final do mês. Obrigada por
mirar no chão, quando a gente fica tacando escova de cabelo uma na outra.
Obrigada por me dizer que eu era linda, mesmo quando meu nariz tinha o tamanho
e vida própria (e por nunca ter reparado no tamanho excessivamente pequeno dos meus dedos, justamente, por achá-los lindos e normais).
Não poderia me esquecer de
admitir que você sempre acertou quando me mandava colocar blusa, porque ia
fazer frio. Sempre passei frio. Nunca falei que sim. Aparentemente, sem motivo
algum. Obrigada. Feliz dia das mães, adiantado.





Que texto mais lindo, Bru! Adorei.
ResponderExcluirTão gostoso poder recordar alguns momentos, assim... Consegui imaginar/ visualizar muitas situações a partir das suas palavras <3
<3 <3 <3 <3 <3
ExcluirFilha, aparentemente sem motivo nenhum, eu amei ficar grávida de você, mesmo em um momento de vida que dizia claramente: Loucura! Mas o amor é doido mesmo, e com todos os motivos do mundo eu abracei a causa: ser mãe! Você chegou, chacoalhou a minha vida e a do papai e adoramos a missão.
ResponderExcluirVc deu colorido e vida para nossas vidas. Às vezes escovas voarão, mas muitos beijos e abraços também vão rolar aqui em casa! te amo bjs
hahahah muito fofo esse texto!! <3
ResponderExcluirkkkk ficou engraçado mesmo. Porque ela é exatamente assim!!
ExcluirBeijos, Na!!! <3