O texto mais bonito

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O texto perfeito não é planejado. Ele nasce no papel em branco, do guardanapo no bar, no bloco de notas do celular. É do tipo que chega tímido, com palavras simples, sem nexo. Vai conquistando, tomando forma, ocupando espaço, tomando conta, até que, pronto, você já se envolveu. Ele parece bobo aos olhos dos outros, mas, pra você, faz todo o sentido do mundo. Ele não tem forma, letra, tamanho, nem padrão definido. O texto perfeito não é tão perfeito assim. Parece com a nossa vida, não é? Perfeita na imperfeição, bela mesmo quando nem tudo está colorido. O texto mais bonito vem com a brisa do fim da tarde, ou com uma madrugada de insônia. Ele vem, vem quietinho, dá passinhos pequenos, vai aumentando a intensidade; às vezes corre e não dá pra fugir. Embora discreto, é imponente. Não sossega enquanto não tiver começo, meio e fim. Existem aqueles que nos deixam "de boca aberta", pasmos, de tanta inteligência que carregam. O texto perfeito é igual ao amor. Ele carrega amor. Ele fica por um tempo, faz a gente mudar, depois vai embora e nem olha pra trás. E no fim só fica sobrando aquele papel amarelado, no fundo da gaveta, perdido, amassado, ou no meio daquele arquivo antigo, daquele blog velho, do diário esquecido. O texto perfeito nasce com seus dias contados. Nasce para brilhar tanto quanto um fósforo aceso. Só ficam as palavras, os pequenos trechos, os significados, as lembranças de quem o escreveu, as lembranças de quem o leu e de quem o recebeu. O texto perfeito não é nada mais do que um passado bonito, um amor que tivemos, um dia gostoso na praia, um final de semana com os amigos. Ele é tudo e nada ao mesmo tempo. Funciona como uma espécie de selo entre passado, presente e futuro. É um amontoado de palavras importantes para um e inúteis para outros, mas que tem vida. Palavras muito vivas, por sinal. O texto perfeito existe pra quem o trata como tal. Ele exige tanta atenção, quanto uma criança. Pode emocionar, deixar saudade, ir parar numa tatuagem. O texto perfeito está em tudo. Na poesia, no outdoor, nos livros. Basta enxergar com carinho e ele vai estar lá. Sempre perfeito.